quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Cuidado com o Banoffee

A noite espreitava-se promissora. A minha acompanhante era um monumento. Vanda, coxa roliça, ancas dengosas, lábios carnudos, olhos de amêndoa-pecado. Perdição absoluta!

Porra, passado este tempo ainda se me arrepanham os pelos do peito e me entumece a parte mais pudibunda desta humilde carcaça – se assim se pode dizer, não querendo ferir susceptibilidades.

Ela, aí entre as 20 e vinte e 15, faz entrada triunfal, queda-se um pouco para ver as fotografias e manifesta particular interesse no Fernando Ferrão que ri galhofeiro no retrato e parece dizer ao mundo “sim, sou o gajo dos Malucos do Riso”. Vanda sorri, apanha de enxurrada um a um cada cliente com esse olhar fatal, matador mesmo c’um caraças – e eu ali, na mesa do canto, numa tremedeira infernal de pernas, a boca seca que, num último esforço ainda diz “Eduardo traz-me outra imperial, olá Vanda estou aqui”. E as mãos papudas já suadas, lábios espetados para a frente, olhos fechados, de encontro à face direita da moça.

Osculamo-nos mutuamente, num conflito eléctrico de emoções que percorreram a espinha e confluíram eruptivas para um canto profundo do cerebelo. E sentou-se majestática, ali frente a mim sob a cobiça invejosa da rapaziada de beiça caída pelas mesas em redor.


O jantar correu como o previsto, entre risinhos nervosos, mãos que se apalpam e discretos roçar de pernas – porque aquilo é casa séria e não se permitem desavergonhices.

A carne estava boa, o vinho apelava ao remoto poeta que há em mim, até que nos chegamos à sobremesa. “O que sugere Maurício?” E eu, ar parvo, lambuzando-me do “mais logo”, assim lhe sugeri: “Coma o Banoffee, é coisa verdadeiramente orgásmica”.

No seu olhar estava chapada a luxúria, o lábio inferior tremia ligeiramente… Colher a colher foi degustando o doce da casa, e o seu corpo sendo percorrido em erupções ritmadas por longos suspiros. Confiante, atirei de enfiada: “Olhe lá ó Vanda, na minha casa ou na sua?” Olhou-me nos olhos, ar incrédulo, e pronunciou: “Cada um na sua. Ó Eduardo embrulhe-me um Banoffee para levar – sabe Maurício com um doce destes não preciso de si para nada!”.


Há dias em que não se pode sair de casa...

Maurice Grassé

1 comentário:

ATP disse...

Ena, c'um caraças, descobri agora a razão da minha luxúrica inquietação daquela noite. Foi mesmo o Banofee!