«É preciso criar referências que destoem»
Nuno Santos - CHULLAGE para os costumes - é um nome maior do HIP Hop nacional e licenciado em Sociologia. Entre dois mundos, a África remota e esta Europa que aparta etnias sob um discurso hipocritamente "inclusivo", é também uma referência de valores que faz mexer a comunidade. Afirma-se como um activista social e propõe que a rebeldia incontrolada dos jovens se eleve a uma outra rebeldia - a consciente! Em 15 de Abril vamos tê-lo em mais um Jantar Tertúlia.
«O Steve Bico dizia uma coisa muito importante: "a arma mais potente do opressor é a mente do oprimido". Quer dizer, descolonizou-se formalmente, territorialmente, mas não se descolonizou a cabeça das pessoas. Quando acreditas nos esteriótipos que existem em relação a ti, quando acreditas nas limitações que o opressor fez acreditar que tens, obviamente que não consegues acreditar em ti próprio. E todos temos esse patrão branco dentro da cabeça - e digo branco, como posso dizer José Eduardo dos Santos ou José Maria Neves. Mas a nível de nós, a chamada segunda geração - que é um termo um bocado merdoso - há que, como dizia Amílcar Cabral, "reafricanizar os espíritos". Ou seja, libertarmo-nos dessas correntes que estão na mente. Não temos grilhetas nos pés, mas continuamos a tê-las na cabeça. Temos de fazer o principal processo de descolonização, que é descolonizar as mentes. Por exemplo, libertaram Angola mas está lá outro chulo a defender os mesmos interesses. É preciso criar referências que destoem. Referências que partam da rebeldia incontrolada para uma rebeldia consciente. E que, no caso da música, não pode ser um discurso raper supostamente rebelde, mas que não sai dali. E o Hip Hop pode ser uma cultura de referências dentro da comunidade de jovens filhos de imigrantes em Portugal. E, no meu caso, virei-me para a universidade pela consciência que o Rap me trouxe, pela necessidade de cimentar o discurso. Claro que a universidade não é 100 porcento boa - e tenho uma perspectiva muito crítica -, mas tenho vindo a enriquecer o meu discurso de uma perspectiva alternativa, com essa base que me faltava.»
[Chullage, in entrevista ao jornal "Conversas de Café", 9 de Junho 2008]
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