5º Jantar Tertúlia > 15 de Abril, 20 h.
«Nasceste Nuno Santos, filho de pais caboverdeanos - e de um pai com ligações à música.
O meu pai tocava guitarra, chegou a ter um grupo. E isso tem a ver com uma tradição de Santo Antão, onde as pessoas têm o hábito de tocar nas ruas.
E a tua origem, no plano da ascendência, tem a ver com Santo Antão...
Exactamente. Ele ainda chegou a tocar aqui, mas a necessidade do trabalho para sustentar a família frustrou esse seu lado musical. Mas sempre me falou muito de música. E havia todo esse ambiente. Se estivesse 10 horas em casa, eram dez horas a ouvir música. E, se calhar de forma até inconsciente, ele transmitiu isso para nós. Daí sermos três filhos todos ligados à música. Tenho um irmão na Holanda, que é músico profissional, já com um percurso importante. Partiu do Hip Hop e expandiu-se para outras expressões urbanas. E é muito interessante, porque a banda onde ele agora trabalha é composta por malta emigrante, portugueses que não tinham nenhuma hipótese em Portugal e emigraram para a Holanda.
Aos 15 anos começas a escrever letras. Como é que surgiu o Chullage?
Tem duas épocas. Todos os caboverdeanos têm uma coisa que se chama 'nominha' [alcunha - nr]. Um dia há um gajo que embica com uma cena e espeta-te aquilo - e ficas com uma alcunha para o resto da vida. Todas as Marias são Bias, as Fátimas são Fatús. Mas, para além disso, ocorrem aquelas situações caricatas. E, comigo, foi assim. Estava a cravar dinheiro à minha prima para ir para a escola. E há um gajo que diz 'tu és um chulo' e inventou um caboverdeanismo qualquer, e começaram a chamar-me Chullage. E, no meu bairro, nunca mais me chamaram Nuno. E quando me perguntaram qual ia ser o meu nome artístico eu disse: 'eu sou o Chullage, é assim que me chamam, e é assim que vou ficar'. Portanto, não foi um nome artístico adoptado no momento, já estava lá e ficou.»
[In entrevista ao jornal CONVERSAS DE CAFÉ, 6 Jun.08]
Foto: LUÍS ROCHA
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